sábado, 25 de abril de 2015

Os cravos vermelhos, símbolo da Revolução de abril de 1974

Quem inventou os cravos vermelhos da Revolução?

Leiam esta história!


 Celeste Ceiro

Salgueiro Maia contara,  que os cravos vermelhos se tinham tornado um símbolo quando a sua coluna de autometralhadoras, partindo do Terreiro do Paço a caminho do Largo do Carmo, passou no Rossio. Aí, a coluna começou a ser alvo de gestos de simpatia, antes de mais nada de ardinas que lhe distribuíram os primeiros jornais em quase meio século a serem publicados sem passarem pela censura. Tudo era oferecido aos soldados - um homem apareceu com um presunto, a cortar fatias e a oferecê-las.

E havia as floristas que vendiam cravos. Na euforia do momento, começaram a distribuir às tropas revolucionárias os seus cravos, brancos e vermelhos. Logo as preferências se fixaram nos cravos vermelhos - pelo simbolismo da cor, explicou Maia, que os fotógrafos também favoreceram.

Em 1974, Celeste Caeiro tinha 40 anos e vivia num quarto que alugara ao Chiado, com a mãe e com uma filha que criava sem a ajuda do antigo companheiro. Trabalhava na rua Braancamp, na limpeza do restaurante Franjinhas, que abrira um ano antes. O dia de inauguração fora precisamente o 25 de Abril de 1973.

O gerente queria comemorar o primeiro aniversário do restaurante oferecendo cravos à clientela. Tinha comprado cravos vermelhos e tinha-os no restaurante, quando soube pela rádio que estava na rua uma revolução. Mandou embora toda a gente e acrescentou, como Celeste recorda na entrevista: "Levem as flores para casa, é escusado ficarem aqui a murchar".

Celeste foi então de Metro até ao Rossio e aí recorda ter visto as "chaimites" e ter perguntado a um soldado o que era aquilo. Recorda também que o soldado lhe falou da ideia de irem para o Largo do Carmo, onde Marcelo Caetano se tinha refugiado. O soldado, que já lá estava desde muito cedo, pediu-lhe um cigarro e Celeste, que não fumava, só pôde oferecer-lhe um cravo.

O soldado logo colocou o cravo no cano da espingarda. O gesto foi visto e imitado. No caminho, a pé, para o Largo do Carmo, Celeste foi oferecendo cravos e os soldados foram colocando esses cravos em mais canos de mais espingardas.


As G-3 assim enfeitadas ajudavam o povo a distinguir as tropas amigas. Era mais um motivo para não fazer caso dos repetidos apelos dos capitães a que os civis permanecessem em casa, mais um motivo para vir para a rua e para confraternizar com a tropa libertadora. "Afinal, em vez de dar tiros, as espingardas tinham flores", diz Celeste Caeiro, singelamente, na entrevista a Ana Sousa Dias.

Impossível saber se as floristas ofereceram cravos à tropa por mais soldados quererem imitar o primeiro, que o recebera de Celeste; ou se os ofereceram por lhes ter ocorrido espontaneamente. Certo é que a espontaneidade da primeira oferta não era uma ideia caída do céu. Celeste não tinha qualquer militância política anterior, mas sabia o que se passava nos tribunais plenários, desde o dia em que fora assistir ao julgamento de um tio, preso durante dois anos. 

Teve de alugar uma casa, ainda em escudos, quando tinha começado a receber a reforma correspondente aos seus 40 anos de descontos. Pagava o equivalente a 470 euros de renda e recebia o equivalente a 760 euros de reforma. 

Cronologia resumida da revolução de abril de 1974:
" 22:55 [24 de abril de 1974] - Os Emissores Associados de Lisboa faz a transmissão de “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, dando ordem de partida para a saída dos quartéis.
00:20 - O programa "Limite" da Rádio Renascença transmite a canção “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, segundo sinal do MFA, para que os militares dessem início às operações previstas.
03:00 - Início do cumprimento das missões militares, de acordo com o Plano Geral das Operações”.
04:20 - O Rádio Clube Português transmite o primeiro comunicado do MFA. O Aeroporto de Lisboa e o Aeródromo Base de Figo Maduro são ocupados pela coluna da EPI-Escola Prática Infantaria (Mafra).
06:45 - O Posto de Comando toma conhecimento de que Marcello Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, está no Quartel do Carmo.
08:30 - Uma força da PSP chega ao Terreiro do Paço, mas nem tenta entrar em confronto com as tropas de Salgueiro Maia.
11:30 - Salgueiro Maia comanda as forças da EPC (Escola Prática de Cavalaria), que vão cercar o Quartel da GNR no Largo do Carmo, em Lisboa.
11:45 - O MFA informa o país, através do RCP, que domina a situação de Norte a Sul.
12:30 - As forças de Salgueiro Maia cercam o Largo do Carmo e recebem ordens do Posto de Comando para abrir fogo sobre o Quartel da GNR, para obter a rendição de Marcello Caetano.
15:00 - Por ordem do Posto de Comando, Salgueiro Maia pega num megafone e faz um ultimato à GNR para que se renda, ameaçando rebentar com os portões do Quartel do Carmo.
17:00 - Por ordem do Posto de Comando, às 15h10, Salgueiro Maia pega num megafone e faz um ultimato à GNR para que se renda, ameaçando rebentar com os portões do Quartel do Carmo, dizendo: «atenção Quartel do Carmo, atenção Quartel do Carmo. Damos dez minutos para se renderem. Todas as pessoas que ocupam o quartel devem sair desarmadas e com as mãos no ar. Se não saírem destruiremos o edifício».
18:00 - Spínola chega ao Largo do Carmo e, acompanhado por Salgueiro Maia, entra no Quartel para dialogar com Marcello Caetano.
18:30 - A Chaimite "Bula" entra no Quartel do Carmo para transportar Marcelo Caetano à Pontinha.
23:30 - É promulgado o Decreto-Lei n.º 171/74, da Junta de Salvação Nacional, que extingue a PIDE/DGS , a Legião Portuguesa, a Mocidade Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina e o Secretariado para a Juventude e insere novas disposições relativas às atribuições da Polícia Judiciária e da Guarda Fiscal. A PIDE/DGS era somente extinta em Portugal Continental, sendo reorganizada em Polícia de Informação Militar «nas províncias»
.[...] É promulgada a Lei n.º 1, da Junta de Salvação Nacional, que destitui das suas funções o Presidente da República, o Presidente do Conselho e o Governo e dissolve a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado e determina que todos os poderes atribuídos aos referidos órgãos passem a ser exercidos pela Junta de Salvação Nacional. "
in Lisboa de antigamente
Um ótimo dia  25 de abril!
Muitos beijinhos
Profª Fernanda Ribeiro

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