Leiam esta história!
Celeste Ceiro
Salgueiro Maia contara, que os cravos vermelhos se tinham tornado um símbolo quando a sua coluna de autometralhadoras, partindo do Terreiro do Paço a caminho do Largo do Carmo, passou no Rossio. Aí, a coluna começou a ser alvo de gestos de simpatia, antes de mais nada de ardinas que lhe distribuíram os primeiros jornais em quase meio século a serem publicados sem passarem pela censura. Tudo era oferecido aos soldados - um homem apareceu com um presunto, a cortar fatias e a oferecê-las.
E havia as floristas que vendiam cravos. Na euforia do momento, começaram a distribuir às tropas revolucionárias os seus cravos, brancos e vermelhos. Logo as preferências se fixaram nos cravos vermelhos - pelo simbolismo da cor, explicou Maia, que os fotógrafos também favoreceram.
Em 1974, Celeste Caeiro tinha 40 anos e vivia num quarto que alugara ao Chiado, com a mãe e com uma filha que criava sem a ajuda do antigo companheiro. Trabalhava na rua Braancamp, na limpeza do restaurante Franjinhas, que abrira um ano antes. O dia de inauguração fora precisamente o 25 de Abril de 1973.
O gerente queria comemorar o primeiro aniversário do restaurante oferecendo cravos à clientela. Tinha comprado cravos vermelhos e tinha-os no restaurante, quando soube pela rádio que estava na rua uma revolução. Mandou embora toda a gente e acrescentou, como Celeste recorda na entrevista: "Levem as flores para casa, é escusado ficarem aqui a murchar".
Celeste foi então de Metro até ao Rossio e aí recorda ter visto as "chaimites" e ter perguntado a um soldado o que era aquilo. Recorda também que o soldado lhe falou da ideia de irem para o Largo do Carmo, onde Marcelo Caetano se tinha refugiado. O soldado, que já lá estava desde muito cedo, pediu-lhe um cigarro e Celeste, que não fumava, só pôde oferecer-lhe um cravo.
O soldado logo colocou o cravo no cano da espingarda. O gesto foi visto e imitado. No caminho, a pé, para o Largo do Carmo, Celeste foi oferecendo cravos e os soldados foram colocando esses cravos em mais canos de mais espingardas.
As G-3 assim enfeitadas ajudavam o povo a distinguir as tropas amigas. Era mais um motivo para não fazer caso dos repetidos apelos dos capitães a que os civis permanecessem em casa, mais um motivo para vir para a rua e para confraternizar com a tropa libertadora. "Afinal, em vez de dar tiros, as espingardas tinham flores", diz Celeste Caeiro, singelamente, na entrevista a Ana Sousa Dias.
Impossível saber se as floristas ofereceram cravos à tropa por mais soldados quererem imitar o primeiro, que o recebera de Celeste; ou se os ofereceram por lhes ter ocorrido espontaneamente. Certo é que a espontaneidade da primeira oferta não era uma ideia caída do céu. Celeste não tinha qualquer militância política anterior, mas sabia o que se passava nos tribunais plenários, desde o dia em que fora assistir ao julgamento de um tio, preso durante dois anos.
Teve de alugar uma casa, ainda em escudos, quando tinha começado a receber a reforma correspondente aos seus 40 anos de descontos. Pagava o equivalente a 470 euros de renda e recebia o equivalente a 760 euros de reforma.
Cronologia resumida da revolução de abril de 1974:
" 22:55 [24 de abril de 1974] - Os Emissores Associados de Lisboa faz a transmissão de “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, dando ordem de partida para a saída dos quartéis.
00:20 - O programa "Limite" da Rádio Renascença transmite a canção “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, segundo sinal do MFA, para que os militares dessem início às operações previstas.
03:00 - Início do cumprimento das missões militares, de acordo com o Plano Geral das Operações”.
04:20 - O Rádio Clube Português transmite o primeiro comunicado do MFA. O Aeroporto de Lisboa e o Aeródromo Base de Figo Maduro são ocupados pela coluna da EPI-Escola Prática Infantaria (Mafra).
06:45 - O Posto de Comando toma conhecimento de que Marcello Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, está no Quartel do Carmo.
08:30 - Uma força da PSP chega ao Terreiro do Paço, mas nem tenta entrar em confronto com as tropas de Salgueiro Maia.
11:30 - Salgueiro Maia comanda as forças da EPC (Escola Prática de Cavalaria), que vão cercar o Quartel da GNR no Largo do Carmo, em Lisboa.
11:45 - O MFA informa o país, através do RCP, que domina a situação de Norte a Sul.
12:30 - As forças de Salgueiro Maia cercam o Largo do Carmo e recebem ordens do Posto de Comando para abrir fogo sobre o Quartel da GNR, para obter a rendição de Marcello Caetano.
15:00 - Por ordem do Posto de Comando, Salgueiro Maia pega num megafone e faz um ultimato à GNR para que se renda, ameaçando rebentar com os portões do Quartel do Carmo.
17:00 - Por ordem do Posto de Comando, às 15h10, Salgueiro Maia pega num megafone e faz um ultimato à GNR para que se renda, ameaçando rebentar com os portões do Quartel do Carmo, dizendo: «atenção Quartel do Carmo, atenção Quartel do Carmo. Damos dez minutos para se renderem. Todas as pessoas que ocupam o quartel devem sair desarmadas e com as mãos no ar. Se não saírem destruiremos o edifício».
18:00 - Spínola chega ao Largo do Carmo e, acompanhado por Salgueiro Maia, entra no Quartel para dialogar com Marcello Caetano.
18:30 - A Chaimite "Bula" entra no Quartel do Carmo para transportar Marcelo Caetano à Pontinha.
23:30 - É promulgado o Decreto-Lei n.º 171/74, da Junta de Salvação Nacional, que extingue a PIDE/DGS , a Legião Portuguesa, a Mocidade Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina e o Secretariado para a Juventude e insere novas disposições relativas às atribuições da Polícia Judiciária e da Guarda Fiscal. A PIDE/DGS era somente extinta em Portugal Continental, sendo reorganizada em Polícia de Informação Militar «nas províncias»
.[...] É promulgada a Lei n.º 1, da Junta de Salvação Nacional, que destitui das suas funções o Presidente da República, o Presidente do Conselho e o Governo e dissolve a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado e determina que todos os poderes atribuídos aos referidos órgãos passem a ser exercidos pela Junta de Salvação Nacional. "
in Lisboa de antigamente
Um ótimo dia 25 de abril!
Muitos beijinhos
Profª Fernanda Ribeiro
Muitos beijinhos
Profª Fernanda Ribeiro
0 comentários:
Enviar um comentário