domingo, 5 de maio de 2013

O Dia da Mãe e uma história recitada



Mãezinha

A terra de meu pai era pequena e os transportes difíceis. 
Não havia comboios, nem automóveis, nem aviões, nem mísseis. 
Corria branda a noite e a vida era serena. 
Segundo informação, concreta e exacta, 
dos boletins oficiais, 
viviam lá na terra, a essa data, 
3023 mulheres, das quais 
45 por cento eram de tenra idade, 
chamando tenra idade 
à que vai desde o berço até a puberdade. 
28 por cento das restantes eram senhoras, 
daquelas senhoras que só havia dantes. 
Umas, viúvas, que nunca mais (oh! nunca mais!) tinham sequer sorrido 
desde o dia da morte do extremoso marido; 
outras, senhoras casadas, mães de filhos... 
(De resto, as senhoras casadas, 
pelas suas próprias condições, 
não têm que ser consideradas 
nestas considerações.) 

Das outras, 10 por cento
eram meninas casadoiras, seriíssimas, discretas, 
mas que, por temperamento, 
ou por outras razões mais ou menos secretas, 
não se inclinavam para o casamento. 

Além destas meninas havia, salvo erro, 32, 
que à meiga luz das horas vespertinas 
se punham a bordar por detrás das cortinas 
espreitando, de revés, quem passava nas ruas. 

Dessas havia 9 
que moravam em prédios baixos como então havia, 
um aqui, outro além, mas que todos ficavam 
no troço habitual que meu pai percorria, 
tranquilamente, no maior sossego, 
às horas em que entrava e saía do emprego. 

Dessas 9 excelentes raparigas 
uma fugiu com o criado da lavoura; 
5 morreram novas, de bexigas; 
outra, que veio a ser grande senhora, 
teve as suas fraquezas mas casou-se 
e foi condessa por real mercê; 
outra suicidou-se não se sabe porquê. 

A que sobeja chama-se Rosinha. 
Foi essa que meu pai levou à igreja. 
Foi a minha mãezinha. 

António Gedeão (1906-1997)
Obra Completa, Relógio d'Água 

Beijinhos a todos,
Prof. de Português

6 comentários:

Fernanda Ribeiro disse...

Lindo é este poema de António Gedeão!!

Bem-hajam todas as mães do mundo :-)

Beijinhos para todos e passem um ótimo Dia!

Anónimo disse...

Um abraço para todas as MÃES do mundo.

Renato Louro

Anónimo disse...

O poema de António Gedeão foi bem interpretado pelo ator.
Beijinhos,
Ana Beatriz e Frederico.

Anónimo disse...

Adorámos o poema!
Um beijinho muito grande para todas as mães do mundo!


André Dias e Inês do 5ºano

Anónimo disse...

Este poema de António Gedeão é muito bonito.
Um beijinho a todas as mães,




Gabriela Silva e João Nobre

Anónimo disse...

Nós gostamos deste poema, porque fala de como o pai do poeta António Gedeão conheceu a sua mãe.

De Leandro Duarte, André Pereira e Renato Mântua

Enviar um comentário