Queridos alunos,
Uma vez que, durante este ano letivo, lemos algumas histórias e poemas do escritor moçambicano Mia Couto, sobre quem alguns de vocês até redigiram uma biobibliografia, deixo-vos uma sugestão de leitura: a entrevista que o autor deu aos alunos de um colégio da cidade de São Paulo, no Brasil. Os alunos colocaram-lhe onze questões e Mia Couto respondeu de bom grado.
Podem ler a entrevista completa aqui. É longa e pelo meio encontrarão palavras que provavelmente não conhecem (consultem o dicionário!), mas tem muito interesse e dá que pensar. Para verem como vale a pena, deixo-vos uma breve passagem. Reflitam sobre isto!
Essa ideia de que a África é muito diferente, muito exótica existe só na cabeça de algumas pessoas. Mas há uma coisa que é preciso ser dita. Em uma sociedade que é muito pobre, às cinco da manhã, às vezes eu saio de casa e vejo as pessoas já acordadas, atravessando quilómetros a pé, andando 30, 40 quilómetros para ir à escola, saindo de casa sem o café da manhã e tomando simplesmente uma xícara de chá com muito açúcar para dar energia, para ir para a escola aprender. Eu tenho um prazer enorme de ir às escolas em Moçambique, porque os meninos estão ali com uma fé quase religiosa. Eles estão ali absorvendo, têm os olhos abertos até o infinito, estão completamente ali. Não se ouve uma mosca passando na sala. É um investimento que eles fazem em uma outra esperança, em uma outra crença. É impressionante. Mas há escolas em Moçambique nas quais eu não vou: a escola americana, por exemplo, que é uma chatice. É uma vida feita de facilidades, em contraste com essa vida de conquistas, em que as pessoas têm de sair de manhã e têm de lutar. Às vezes nem tenho coragem de perguntar a esses meninos o que eles fizeram para chegar à escola naquele dia. Muitas vezes o giz é feito com pau de mandioca seca. Às vezes, não há sala. É uma árvore. E não há cadeiras, as pessoas sentam no chão. No entanto, aqueles meninos estão todos os dias ali na escola, assim como os professores. Isso é uma grande esperança. É um universo de gente que sabe que tem de fazer isso para construir uma vida diferente. É uma grande escola.
Beijinhos,
Profª de Português
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