O Dia da Espiga,
coincidente com a Quinta-feira da Ascensão, é uma data móvel que segue o
calendário litúrgico cristão e que este ano é celebrada a 9 de Maio.
Mas,
se actualmente poucas são as pessoas que ainda vão ao campo nessa
quinta-feira, abandonando as suas obrigações, para apanhar a espiga, ou
que se deslocam às igrejas para participar nos preceitos religiosos
próprios da data, tempos houve em que, de norte a sul do país, esta foi
uma data faustosa, das mais festivas do ano, repleta de cerimónias
sagradas e profanas, que em muitas zonas implicava mesmo a paragem
laboral. A antiga expressão “no Dia da Ascensão nem os passarinhos bolem
nos ninhos” deriva dessa tradição.
A origem gaudiosa deste dia é,
contudo, muito anterior à era cristã. Este dia é um herdeiro directo de
rituais gentios, realizados durante séculos, por todo o mundo
mediterrâneo, em que grandiosos festivais, de intensos cantares e
danças, celebravam a Primavera e consagravam a natureza.
Para os
povos arcaicos, esta data, tal como todos os momentos de transição, era
mágica e de sublime importância. Nela se exortava o eclodir da vida
vegetal e animal, após a letargia dos meses frios, e a esperança nas
novas colheitas.
A Igreja de Roma, à semelhança do que fez com outras
festas ancestrais pagãs, cristianiza depois a data e esta atravessa os
tempos com uma dupla acepção: como Quinta-feira de Ascensão, para os
cristãos, assinalando, como o nome indica, a ascensão de Jesus ao Céu,
ao fim de 40 dias; e como Dia da Espiga, ou Quinta-feira da Espiga, esta
traduzindo aspectos e crenças não religiosos, mas exclusivos da esfera
agrícola e familiar.
O Dia da Espiga é então o dia em que as pessoas vão ao campo apanhar a espiga, a qual não é apenas um viçoso ramo de várias plantas - cuja composição, número e significado de cada uma, varia de região para região –, guardado durante um ano, mas é também um poderoso e multifacetado amuleto, que é pendurado, por norma, na parede da cozinha ou da sala, para trazer a abundância, a alegria, a saúde e a sorte. Em muitas terras, quando faz trovoada, por exemplo, arde-se à lareira um dos pés do ramo da espiga para afastar a tormenta.
O Dia da Espiga é então o dia em que as pessoas vão ao campo apanhar a espiga, a qual não é apenas um viçoso ramo de várias plantas - cuja composição, número e significado de cada uma, varia de região para região –, guardado durante um ano, mas é também um poderoso e multifacetado amuleto, que é pendurado, por norma, na parede da cozinha ou da sala, para trazer a abundância, a alegria, a saúde e a sorte. Em muitas terras, quando faz trovoada, por exemplo, arde-se à lareira um dos pés do ramo da espiga para afastar a tormenta.
Não
obstante as variações locais, de um modo geral, o ramo de espiga é
composto por pés de trigo e de outros cereais, como centeio, cevada ou
aveia, de oliveira, videira, papoilas, malmequeres ou outras flores
campestres. E a simbologia de cada planta, comumente aceite, é a
seguinte: o trigo representa o pão; o malmequer o ouro e a prata; a
papoila o amor e vida; a oliveira o azeite e a paz; a videira o vinho e a
alegria; e o alecrim a saúde e a força.
Além destas associações basilares ao pão e ao azeite, a espiga surge também conotada com o leite, com as proibições do trabalho e ainda com o poder da Hora, isto é, com o período de tempo que decorre entre o meio-dia e a uma hora da tarde, tomando mesmo, nalguns sítios do país a designação de Dia da Hora. Nas localidades em que assim é entendida esta quinta-feira, acredita-se que neste período do dia se manifestam os mais sagrados e encantatórios poderes da data e nas igrejas realiza-se um serviço religioso de Adoração, após o qual toca o sino. Diz a voz popular que nessa hora “as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e até as folhas se cruzam” . Nalgumas povoações era também do meio-dia à uma que se colhia a espiga.
Noutras regiões ainda, esta
data é dedicada ao cerimonial do leite. Na aldeia da Esperança, no
concelho de Arronches, este é aliás o “Dia do Leite” e os produtores de
queijo ordenham o seu gado e oferecem o leite a quem o quiser. Também em
Guimarães, e em muitas freguesias do concelho de Pinhel, o leite
ordenhado neste dia é oferecido ao pároco. Em Santa Eulália, no concelho
de Elvas, esse leite é dado aos pobres, acreditando-se assim que a
sarna não atingirá as cabras.
Nas zonas onde esta data é associada à
abstenção laboral, cessam-se muitas actividades como a cozedura do pão
ou a realização de negócios. Na Lousada, em Penafiel, não se cose nem se
remenda e há quem deixe comida feita de véspera para não ter de
cozinhar neste dia.
No que diz respeito ao sul do país, e sobretudo
na actualidade, a maioria das tradições do Dia de Espiga resume-se à
apanha do ramo da espiga, ao qual, em muitos sítios, se adiciona também
uma fatia de pão, para que durante todo o ano não falte este alimento em
casa.
Beijinhos a tod@s,
Profª de Português
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