Havia um homem que tinha tantos filhos, tantos que não havia ninguém na freguesia que não fosse compadre dele e vai a mulher teve mais um filho. Que havia do homem fazer? Foi por esses caminhos fora a ver se encontrava alguém que convidasse para compadre.
Encontrou um pobrezito e perguntou-lhe se queria ser compadre dele.
— Quero; mas tu sabes quem eu sou?
— Eu sei lá; o que eu quero é alguém para padrinho do meu filho.
— Quero; mas tu sabes quem eu sou?
— Eu sei lá; o que eu quero é alguém para padrinho do meu filho.
— Pois, olha, eu cá sou Deus.
— Já me não serves; porque tu dás a riqueza a uns e a pobreza a outros.
Foi mais adiante; e encontrou uma pobre e perguntou-lhe se queria ser comadre dele.
— Quero; mas sabes tu quem eu sou?
— Não sei.
— Pois, olha, eu cá sou a Morte.
— És tu que me serves, porque tratas a todos por igual.
— Quero; mas sabes tu quem eu sou?
— Não sei.
— Pois, olha, eu cá sou a Morte.
— És tu que me serves, porque tratas a todos por igual.
Fez-se o baptizado e depois disse a Morte ao homem:
— Já que tu me escolheste para comadre, quero-te fazer rico. Tu fazes de médico e vais por essas terras curar doentes; tu entras e se vires que eu estou à cabeceira é sinal que o doente não escapa e escusas de lhe dar remédio; mas se estiver aos pés é porque escapa; mas livra-te de querer curar aqueles a que eu estiver à cabeceira, porque te dou cabo da pele.
— Já que tu me escolheste para comadre, quero-te fazer rico. Tu fazes de médico e vais por essas terras curar doentes; tu entras e se vires que eu estou à cabeceira é sinal que o doente não escapa e escusas de lhe dar remédio; mas se estiver aos pés é porque escapa; mas livra-te de querer curar aqueles a que eu estiver à cabeceira, porque te dou cabo da pele.
Assim foi. O homem ia às casas e se via a comadre à cabeceira dos doentes abanava as orelhas; mas se ela estava aos pés receitava o que lhe parecia. Vejam lá se ele não havia de ganhar fama e patacaria, que era uma coisa por maior! Mas vai uma vez foi a casa dum doente muito rico e a Morte estava à cabeceira; abanou as orelhas; disseram-lhe que lhe davam tantos contos de réis se o livrasse da Morte e ele disse:
— Deixa estar que eu te arranjo, e pega no doente e muda-o com a cabeça para onde estavam os pés e ele escapa.
— Deixa estar que eu te arranjo, e pega no doente e muda-o com a cabeça para onde estavam os pés e ele escapa.
Quando ia para casa sai-lhe a comadre ao caminho:
— Venho buscar-te por aquela traição que me fizeste.
— Venho buscar-te por aquela traição que me fizeste.
— Pois, então, deixa-me rezar um padre-nosso antes de morrer.
— Pois reza.
— Pois reza.
Mas ele rezar; qual rezou! Não rezou nada e a Morte para não faltar à palavra foi-se sem ele.
Um dia o homem encontra a comadre que estava por morta num caminho; e ele lembrou-se do bem que ela lhe tinha feito e disse:
— Minha rica comadrinha, que estás aqui morta; deixa-me rezar-te um padrenosso por tua alma.
Depois de acabar, a Morte levantou-se e disse:
— Pois já que rezaste o padre-nosso, vem comigo.
Depois de acabar, a Morte levantou-se e disse:
— Pois já que rezaste o padre-nosso, vem comigo.
O homem era esperto; mas a Morte ainda era mais; pois não era?
Conto tradicional português, recolhido por Adolfo Coelho
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